terça-feira, 25 de março de 2008

ichamento do texto nº 1:
SILVA, Francisco C. T. da, ”Os Fascismos” In ___ FILHO, Daniel Aarão Reis (org.)
Século XX Volume II: O Tempo das Crises.

O autor caracteriza o fascismo como um conjunto de movimentos nacionalistas de extrema direita de estrutura hierárquica e autoritária e de ideologia antiliberal, antidemocrática e antisocialista (antiuniversalista e anti - iluminista, antiogmatico, antidemagrafico, inovador.) cuja primeira realização cronológica foi na Itália.
Além disso, ele alerta que não devemos tratar o fascismo como um simples objeto de história, ou fato preso ao passado sem inserção na política contemporânea, pois ele ressurge a partir da década de 80, como movimento de reação das massas apoiado ou não pela direita parlamentar, ligado a publicação de documentos sobre os fascismos anteriores devido à reunificação alemã (e a onda de nacionalismo xenófobo daí advinda), e ao fim da Guerra Fria, isso ocorreu em países como França, Alemanha, Itália e etc.
Uma das causas que o autor cita para este tratamento do fascismo como acidente, foi à ação dos EUA no contexto de Guerra Fria, que para evitar que as elites políticas já fragilizadas pela guerra tivessem seu poder mais abalado pela culpabilização o que possibilitaria a influência soviética. Na Alemanha, por exemplo, em 1946 os Estados Unidos atenuavam a legislação sobre a desnazificação, o que a deixou incompleta (é possível fazer uma ponte entre o fascismo e o neofascismo através dessa desnazificação incompleta.
O autor propõe tratar o fascismo em termos mais fenomenológicos, usando um método comparativo entre os diversos movimentos fascistas, tenham eles chegado ao poder ou não, observando o seu caráter autônomo, universal e ao mesmo tempo suas especificidades. Esta característica do fascismo vem da sua coerência interna dada pala fala e ação voltada para exaltação de características próprias (originais, autônomas), nacionais e históricas de cada movimento, para justificar suas idéias; o que não destrói a universalidade do fenômeno, pois tem características comuns.
E a coerência externa é dada pela identidade e colaborações praticadas entre o regime, essas coerências são tão fortes que propiciam uma ligação intensa entre a linguagem e a ação. O autor argumenta que a oscilação do fascismo não é falta de coerência e sim uma procura pela aceitabilidade perante as massas.
É importante ressaltar que para estudar o fascismo, devemos questionar o que levou à adesão de varias pessoas a sua doutrina, o autor responderá esta pergunta, citando características do fascismo que ultrapassavam a política, por exemplo, o fascismo era impregnado de uma idéia de revolução como destruição, como um modo de vida, capaz de liberar os ódios existentes.
Suas soluções anti- modernas eram extremamente atrativa, pois a modernidade é contraditória e sua contradição permeava as pessoas, estas entravam em conflitos, pois tinham suas tradições despedaçadas, mas ao mesmo tempo surgiam muitas possibilidades de experiências. Então o fascismo se propunha o culto à tecnologia criada pela modernidade, mas também aos valores moralistas tradicionais, pela preservação desses na comunidade popular é necessário acabar com aqueles que não se encaixam nesses valores homegeineizantes (os estrangeiros, ou seja, aquilo que não se encaixa no nacional é antinacional), diante dos quais as diferenças têm que desaparecer.
As minorias que impediram a coesão nacional, enfraquecendo o Estado, não há, portanto espaço para esse outro e a violência é a reposta fascista. É importante ressaltar que antes do fascismo, havia sentimento de negação do outro, mas o fascismo exarcebou este.
Assim canaliza-se o ódio em direção a outro que é diferente (esta concepção de mundo é que permite o Holocausto), que não tem cultivam os valores da exaltação da dor, do autoritarismo, do sadomasoquismo, da virilidade, do companheirismo, da beleza masculina se erotismo e da vida comum distante das mulheres (aqueles que não estão no seu circulo de “arianos”, os grupos minoritários) como fazem os fascistas, através de rituais cívicos os fascistas constroem sua identidade (perdida em meio às contradições da modernidade, por meio do restabelecimento de corpos sociais pela corporação fascista). Logo o fascismo uniu a estranheza psicológica em relação ao outro e as condições sociais de insatisfação de sua época (o que acontece novamente hoje em dia) oferecendo conforto e segurança ante as contradições modernas.
O fascismo sofreu influencia da experiência das trincheiras, causada pela 1ª Guerra, que gerou o sentimento de pertencer ao corpo com fins maiores, daí surgem além das personalidades autoritárias, idéias positivas de força, lealdade, honra, temperança, autocontrole e desprendimento da vida, hierarquia (que garantiria a unidade entre Estado e povo), estas permitem “absorção” (como valor a ser alcançado) do individuo pela coletividade.
É atraente também pela sua visão de mundo coerente, onde o líder propunha se a interpretar os anseios das massas, darem sentido e unidade a federação frouxa que era o Estado fascista (este líder ao carregar toda estas responsabilidades se via fraco perante pressões de diversos grupos e ofuscado pelo seu pessoal político que tinha poder pelo fato das diretrizes serem dadas sempre oralmente, recomendação do próprio líder), este era visto como imune as contradições o que garantia segurança das pessoas e a coesão nacional, por isso as pessoas transferiam sua identidade e liberdade pessoal para o coletivo ou para o líder.
Esta transferência era favorecida pela proposta de Estado corporativista, resgatando a descrição de corporação dos autores românticos do século XIX, cuja participação era restrita aos arianos, e aonde reinava a harmonia. Na corporação reuniam-se os dois pólos da produção, mas ao contrario do que pregava não punha em relação direta o trabalhador e o patrão, mas sim patrão e partido, pois controlava os salários e as condições de trabalho.
Esta proposta de estado corporativista tomou formas diferentes no diversos regimes fascistas na Noruega, por exemplo, a hegemonia da burguesia sobre a corporação é clara, mas no caso alemão e italiano há uma tentativa de se apoderar um pouco da tradição marxista, na propaganda, na retórica e na criação de formas alternativas de organizações moralizadoras dos operários, isto para conter a ação dos partidos de esquerda.
A corporação havia sido destruída pelo liberalismo, um sistema falido, desagregador (das tradições, por tanto a esperança era acabar com o liberalismo) e com o conteúdo ideológico esvaziado segundo eles, por isso o fascismo é uma resposta também a crise liberal, o que o marxismo também era, mas só que este era criticado pelos fascistas pelo seu caráter antinacional. Além disso, os fascistas negam a herança da Revolução Francesa, porque esta r transforma judeus em cidadãos, e põem em pratica o principio da representação e o partidarismo que dividia o povo em defesa de interesses individuais (por isso pregavam o partido único e a unidade entre partido e Estado).
Criticam também a limitação do poder pelo liberalismo, por isso absorvem o judiciário pelo complexo movimento/partido, maximizaram o executivo na figura do líder, que serviria aos interesses da comunidade, esta parte da doutrina fascista era um grande passo para a construção da comunidade popular.
O Estado fascista concede certa autonomia a sua burocracia, o que gera a junção de objetivos dispares em torno da mesma doutrina e do mesmo líder. Além disso, o estado fascista desconhece limitações na busca incessante da sua superação como potencia, para garantir a existência da comunidade, portanto não distingue o público do privado, nem se retém em administrar a economia que se juntando ao fordismo garantiria o abastecimento do mercado interno e serviria ao povo. Os próprios fascistas a partir daí se caracterizavam como regimes de produtores. O homem fascista, representante da raça, seria o vinculo dessa potencia.
Enfim o fascismo ao incorporar o homem ao Estado corporativo resolve o problema da estranheza e distancia entre os dois, que gerava sentimentos de revolta, inutilidade etc. Ao pregar um novo tipo de sociedade, atraía os decepcionados com o liberalismo (que sofria desgaste político e econômico), ao buscar na raça a cola para unir a comunidade popular, exarcebou a identificação dos arianos em oposição ao outro minoritário.


Bibliografia:

BERMAN, Marshall “Tudo que é sólido se desmancha no ar: a aventura da modernidade”.(páginas: 24 a 49)

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