domingo, 6 de abril de 2008

Fichamento do texto nº 3:

PAXTON, Robert; “A Anatomia do Fascismo” Capítulo 8.

Ao analisar o fascismo com base em cinco estágios (a criação dos movimentos, o enraizamento nos sistema político, a tomada de poder, o exercício do poder e a opção pela radicalização ou não), onde cada um desses estágios é diferente, o autor levanta uma pergunta: qual deles é o fascismo real?E a partir dessa pergunta ele expõem as várias definições do fascismo, e as diversas respostas a essa pergunta.

Alguns autores argumentam que o fascismo só é puro antes da sua ascensão ao poder, pois para chegar ao poder ele se corrompe com alianças e tratados. Esses autores não levam em consideração que para definir o fascismo é necessário analisar seus estágios finais e iniciais, não de forma isolada, mas como um conjunto.

Outros vêm o fascismo resumido a ações perversas de loucos que chegaram ao poder numa época de decadência moral, sem explicar por que ele chegou ao poder, e porque conquistou tanto apoio popular, esta analise não é histórica, pois atribui ao acaso e as proezas individuais de seus lideres o sucesso do fascismo.

O paradigma da terceira internacional de Stálin argumenta que o fascismo seria o resultado da crise inevitável do capitalismo, mais não expõe a escolha dos cidadãos comuns, nem o fato de que o fascismo e o capitalismo foram aliados. No extremo oposto existe um grupo que pensa o fascismo como carrasco do capitalismo, tomando como exemplo as condições das classes médias nos países que adotaram o fascismo como regime depois da guerra e as declarações de empresários se eximindo da culpa, mas como já foi assinalado o fascismo e o capitalismo foi aliado não inevitável e nem confortáveis.

Existem também as explicações psicologizantes, direcionadas principalmente para Hitler e sua “loucura”, ela não analisa como os lideres “malucos” fascistas exerciam atração nas massas; todavia Wilhelm Reich mostrou outra tese psicologizante, a de que o fascismo foi causado pela repressão sexual masculina, porém ele não considera que a repressão sexual não era maior na Alemanha e na Italia do que em outros países.

Entretanto, as explicações sociológicas são mais bem construídas, e focam na industrialização rápida e tardia, no desenvolvimento social e econômico desigual, e no bloqueio dos acordos pelas elites pré- industriais sobreviventes que causam tensões de classe mais agudas, principalmente na Itália e na Alemanha. Ou na atomização das massas causada pela mesma industrialização, e na corrupção das tradições por causa da modernidade.

Uma comparação é feita entre fascismo e as ditaduras desenvolvimentistas, argumentando que os dois têm o objetivo comum de acelerar o crescimento industrial pela poupança forçada, têm em vista o caso italiano, não observa que o fascismo submete a economia à política e não ao contrario.

Há um paradigma que interpreta o fascismo como conseqüência dos ressentimentos das classes média inferior, que seriam os mais prejudicados pelas mudanças econômicas e sociais ocorrentes na época, mas o apoio ao fascismo veio de varias classes.

Outra comparação é feita entre fascismo e totalitarismo, porém é importante assinalar que a ambição totalitarista jamais foi realizada totalmente (por exemplo, o partido fascista sempre competiu pelo poder com a burocracia estatal, proprietários industriais e agrários ,igrejas ,e elites tradicionais), esta interpretação tenta compara também o regime fascista com o regime bolchevique da URSS com base em algumas semelhanças como:aspiração ao poder total, partido único, ideologia oficial, controle policial terrorista e monopólio dos meios de comunicação, das forças armadas e da organização econômica.Entretanto, para os fascistas a lei estava subordinada aos imperativos de raça ou classe,e eles não queriam só matar os inimigos raciais,mas também exterminar a cultura desses inimigos.

Ao focar na autoridade central essa comparação não observa que as bases fascistas concordavam com as idéias e praticas de sua liderança, além de colocar a imagem de lideres eficazes, não expõe e a realidade,por exemplo ; Hitler reduziu o governo a feudos pessoais;e Mussolini não era capaz de impor prioridades organizadas.Finalmente essa comparação não analisa a eficiência com que os fascistas conseguiam se encaixar na sociedade.

Além dessa existe uma comparação entre o fascismo e a religião política, que leva em consideração a mobilização das massas em torno de ritos e da palavra do líder, o estimulo ao ponto de abnegação, além de considerar que o fascismo pregava uma verdade da qual não admitia dissidência, e que de certa forma ele preenchia o vazio criado pela secularização da sociedade e da moral, só que essa comparação não considera que essa crise existencial permeava os vários países europeus.

Ou entre o fascismo e a tirania clássica, só que a tirania não mobiliza seus cidadãos e é mais comum, embora ambos militarizem suas sociedades e coloquem as guerras de conquista como uma meta. Ou a entre fascismo e o autoritarismo, que assumiu características fascistas bem sucedidas, embora não almejasse reduzir a esfera privada, nem tivesse um partido único oficial, nem mobilizassem as massas além de desejarem um Estado forte mais limitado, hesitando em intervir na economia, o que os fascistas estariam sempre prontos a fazer.

O paradigma antropológico tenta mostrar como o fascismo se apresentava ao público, mas não mede a influencia do fascismo, não explica como os lideres fascistas adquiriram poder suficiente para controlar a cultura, e não conseguem achar um programa cultural (ou um estilo, estética fascista única e imutável) comum a todos os movimentos fascistas ou a todos os estágios do fascismo.

Após mostrar as diversas interpretações do fascismo o autor argumenta que este tem que ser definido como um comportamento político, preocupado com a decadência e a humilhação da comunidade e que oferece cultos compensatórios da unidade, da energia e da pureza. Como um fenômeno das democracias fracassadas, que usa técnicas para canalizar sua energia em torno da construção da comunidade, e de projetos de limpeza interna e expansão externa pela violência redentora. Além de não consistir em aplicação direta de seu programa nem de oportunismo desmedido, mas sim num composto de conservadorismo, nacional socialismo e direita radical contra um inimigo e pela regeneração, energização e purificação da Nação ou da raça.

Paxton aponta alguns sentimentos que permeiam o fascismo, aos quais ele chama de “paixões mobilizadoras”, como por exemplo, o senso de uma catástrofe que não pode ser resolvida tradicionalmente, supremacia do grupo, que também é uma vitima da modernidade, este postulado justifica qualquer ação em nome do grupo vitima.

E também o pavor da decadência do grupo sob a influencia do liberalismo individualista, dos conflitos de classe e dos estrangeiros, portanto há a necessidade de uma integração no interior de uma comunidade pura,por consentimento ou pela violência excludente ,e de um chefe capaz de encarnar o destino histórico do grupo.

O autor termina argumentando que o fascismo enquanto movimento existe até hoje em diversos países, por que o abandono das liberdades democráticas, principalmente das massas é uma tentação recorrente para as democracias atuais;como forma de resolver facilmente todos os problemas dos seus regimes.A ascensão ao poder novamente do fascismo só depende da severidade da crise e das decisões humanas, principalmente dos detentores do poder econômico, social e político.

BIBLIOGRAFIA:

PAXTON, Robert; ”Introdução” In___ Idem “A anatomia do Fascismo”.

BERMAN, Marshall “Tudo que é sólido se desmancha no ar: a aventura da modernidade”. (páginas: 24 a 49)

SILVA, Francisco C. T. da, ”Os Fascismos” In ___ FILHO, Daniel Aarão Reis (org.)

Século XX Volume II: O Tempo das Crises.

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