domingo, 6 de abril de 2008

O filme é basicamente sobre a idéia de eugenia, e como essa idéia (junto à idéia de hereditariedade, evolução e outras idéias biológicas que começavam a serem descobertas) influenciou a política em vários países do mundo, mas principalmente os europeus desde 1900 (quando a eugenia de tornou um credo cientifico) até por volta de 1945. No filme são apresentados os movimentos eugênicos de alguns países mais importantes: União Soviética, Alemanha, Estados Unidos e Suécia.

Antes de comentar mais especificamente sobre esse movimento nesses países, é importante apresentar as características mais gerais do movimento eugênico. Este surge a partir da modernidade, que segundo Berman, expande as possibilidades de experiência, mas corrompe valores tradicionais fazendo surgir pensamentos nostálgicos em relação ao mundo pré- moderno; Cohen coloca que esta modernidade gera um conflito entre o progresso e a saudade do passado. Além disso, o homem começa a perceber que sua condição biológica e natural é contrastante com a sociedade (daí surge o movimento nudista, como negação da modernidade e apreciação do natural), surgem os conceitos de degeneração e destruição racial e cultural. A partir dessa contradição a biologia, e suas descobertas surgem como redenção da humanidade.

A eugenia tem dois caminhos, o positivo que seria a reprodução somente dos mais aptos e o negativo que a esterilização, a morte e a redução da condição social dos defeituosos, a eugenia positiva traz conflitos, pois implica em submeter à sexualidade as qualidades genéticas, em separar a reprodução e o amor, e, portanto desafia a moralidade burguesa enquanto que a negativa não traz todos estes conflitos, as duas convergem no mesmo ponto, pois pregam o bem estar da coletividade acima dos direitos do individuo.

A eugenia mistura o orgulho de ser superior e a esperança de um mundo melhor na terra, por isso muitas pessoas aderem a essa idéia, é importante agora assinalar como a eugenia evoluiu nos países citados no filme ao longo do tempo.

Na Alemanha, a idéia de eugenia se tornou rapidamente popular e por isso alguns alemães admiraram a iniciativa da Suécia de estudar as medidas dos diferentes tipos de pessoas, e a partir disso fundam o Instituto de Biologia; nele a antropologia (cuja missão era além de estudar raça e origem, garantir o futuro da melhor raça) se torna líder das ciências auxiliares da ciência principal “Raça Eugênica Antropológica”, este instituto se dedicará a encontrara a conexão entre a hereditariedade, meio ambiente e cruzamento; e a estabelecer medidas sociais para os racialmente saudáveis.

Para o movimento eugenistas alemão, o que chamava mais atenção eram o corpo, e a decadência deste refletia bem o conflito da sociedade, a ânsia pelo padrão de beleza clássica e a feiúra, a imperfeição causada pela modernidade. Por isso os alemães tentaram achar a encarnação do bem e do bom.

O partido Nacional Socialista Alemão foi o primeiro a usar a eugenia, e a higiene racial como bandeiras, e Hitler foi o primeiro político influente que percebeu a importância dessas bandeiras e lutou por elas, com sua ascensão ao poder o Instituo de Biologia de Berlim vira um lugar de propagação de política racial e de idéias, principalmente a partir da arte que tinha o papel de positivar essa ideologia. Hitler levará a política eugenistas ao extremo, chegando ao ponto da exterminação em massa dos inferiores.

Enquanto na União Soviética, num primeiro momento; imediato a Revolução, a eugenia e a ciência andavam ligadas com a idéia de revolução. O movimento eugenistas, ao contrario da Alemanha, se dedicou a estudar o cérebro, para tentar descobrir as bases genéticas e biológicas da inteligência, o primeiro cérebro a ser estudado foi o de Lênin, além disso, os cientistas traçavam arvores genealógicas dos grandes homens com o mesmo objetivo.

Os eugenistas defendiam que com a seleção dos mais aptos, haveria um aumento da capacidade física e mental do homem e conseqüentemente um aumento da produtividade. O debate se acirrou entre os lamarckistas (o meio ambiente forma o homem) e os Mendelistas (a genética forma o homem), porém com ascensão do nazismo, o mendelismo, a genética e a eugenia são tidas como reacionárias e a idéia do lamarckismo, onde a sociedade molda o homem é bem mais sedutora para os bolcheviques.

Assim o movimento eugenistas morre na URSS na década de 30. Nessa época um cientista defensor do lamarckismo vira mártir e tema de filme na URSS com o objetivo de deter o avanço do mendelismo considerado contra-revolucionário pelo Kremlin.

No Pós - Guerra (e antes do fim dela) Stálin passou a ditar as leis biológicas com base no Lamarckismo, e os geneticistas e biólogos dissidentes foram presos ou mortos, e para a URSS o mais importante era o compromisso com o trabalho e com o espírito de progresso.

Já nos Estados Unidos a eugenia teve inicialmente sucesso imediato, o que gerou a implantação das políticas de esterilização dos racialmente desprezíveis e as competições eugênicas, onde varias famílias eram avaliadas segundo as medidas físicas e de inteligência. Durante essa época, por volta de 1910 até 1940, a pesquisa genética estadunidense guiou o mundo.

Entretanto durante a década de 40, o movimento eugenistas nos EUA se retrai, principalmente por causa da guerra contra a Alemanha (que era vista como expoente da eugenia, porem na verdade os primeiros países a adotar a eugenia prática foram a Suécia e os EUA), e da “descoberta” (quando a população fica sabendo, pois as autoridades já sabiam há muito tempo) das atrocidades alemães, a partir de então a eugenia é vista pelos estadunidenses como não cientifica.

Na Suécia a eugenia é combinada com políticas sociais, que beneficiavam os racialmente bons; aqueles que foram considerados desprezíveis foram mortos ou esterilizados, e ficaram pobres. E o movimento eugenistas dura para além da guerra, o exemplo disso é que algumas leis, medidas e práticas só foram revogadas na década de 80.

Atualmente a idéia de montar uma sociedade baseada numa raça superior continua sendo um sonho, revitalizado depois da queda das utopias (“fim do socialismo” com a queda da URSS, e fim do “bom” capitalismo com a crise dos anos 70 e a readaptação do liberalismo). E para sabermos como combatê-lo é necessário que saibamos como a idéia eugenistas se transformou, foi aplicada e combatida ao longo da história.

BIBLIOGRAFIA:

PAXTON, Robert; Introdução e Capítulo 8 In___ Idem “A anatomia do Fascismo”.

SILVA, Francisco C. T. da, ”Os Fascismos” In ___ FILHO, Daniel Aarão Reis (org.).

BERMAN, Marshall “Tudo que é sólido se desmancha no ar: a aventura da modernidade”. (páginas: 24 a 49).

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