terça-feira, 10 de junho de 2008

Resenha do Livro de Literatura: CONRAD, Joseph. O Coração das Trevas.
Belo Horizonte. Editora Itatiaia. 1984.

Se formos fazer uma história da literatura, constataremos que o período do colonialismo de 1876 a 1914 foi um período cheio de sugestões misteriosas, aventureiras e pirotescas
a esse tipo de produção artística, foi nessa época que o escritor polonês Joseph Conrad escreve seu romance-aventura.
Metafórico, as selvas que ele descreve através da boca de seu personagem principal o capitão Marlow, representam um espaço no qual o homem europeu colonizador se vê livre das convenções normais a qual estava submetido no seu país natal, e tomado pela ideologia de progresso na qual foi educado desde pequeno, expande sobre o espaço colonizado o seu poder e acaba levando tudo a destruição e a barbárie, ainda como marinheiro Marlow contratado por uma companhia comercial, é enviado numa missão para procurar o funcionário exemplar da companhia o capitão Kurtz (os dois foram indicados e contratados pelo mesma indicação na Companhia)que é o exemplo da metáfora de Conrad, escondido na selva Kurtz faz de tudo para extrair marfim, principal produto da companhia belga, mas acaba pondo em risco os poderes da mesma.
Marlow descreve a dominação do homem branco sobre outros povos, inicialmente acredita que Kurtz havia se embrenhado no ponto mais profundo da selva para resgatar os selvagens, ou levar a eles a civilização, mas descobre que o único objetivo de Kurtz é buscar fortuna e poder, Marlow descreve também contradição inerente a sensação de poder que a dominação colonial trazia que por causa de elementos da política e da cultura européia da época tinha um desejo incontrolável de expansão, e, portanto inerente ao homem moderno. E como Kurtz perde a referência ética e moral por causa do seu isolamento de outros homens colonizadores, e da convivência só com os selvagens que haviam feito dele um deus, e quando finalmente Marlow o encontra ao invés da personificação de um mito do qual todo falavam muito bem, Kurtz estava doente e abatido por sua ambição.
O autor Joseph Conrad situa o romance - aventura nas selvas do rio Tâmisa, um lugar onde dez dias pode parecer uma eternidade (o capitão Marlow metaforiza a selva nas duas mulheres que o atenderam na Companhia guiavam ao desconhecido e eram indiferentes como os rostos que viam, como se algo poderoso existisse na selva ,aguardando o fim daquela invasão para qual ele e seus colegas estavam colaborando), que permanece inalterado apesar dos trabalhos prestados por colonizadores aos selvagens, que em busca de riqueza ou fama haviam sido a gloria de suas nações-impérios, enfrentando o clima e outras dificuldades da região.
Através do seu personagem o autor diferencia as tentativas de conquistas antigas das modernas, pelo fato das ultimas terem um apego a eficiência, e, portanto alcançarem mais rapidamente e melhor seus objetivos, e esse apego a eficiência é ensinado às crianças, através da demonstração da gloria dos exploradores incitam novas gerações de exploradores.
Contraditoriamente Marlow sabe que a companhia só tem objetivos mercantis e financeiros na exploração do marfim das terras africanas, ele tenra acreditar que a missão tem um algo de filantrópico, da parte dos colonizadores em querer levar a civilização, o progresso para os selvagens, para ele a sua tia (que o descrevera como uma criatura maravilhosa,apesar do trabalho no além mar não ser bem visto pela maioria)que acreditava nisso estava longe da realidade (ele argumenta que essa era uma característica comum das mulheres em relação a todos os assuntos e de muitas pessoas em relação ao assunto da colonização devido a ideologia da época que pregava a conquista com esse sentido filantrópico,e que os colonizadores e não as companhias eram responsáveis por este) e para a maioria das pessoas Kurtz era a personificação dessa missão, conseguindo ser ao mesmo filantrópico no sentido descrito acima e lucrativo.Mas na posto onde não havia extração/venda de marfim havia um clima de conspiração,porque todos queriam ir para os postos que tinha extração/venda de marfim para lucrar com isso.
Em um determinado momento o capitão Marlow descreve o baixo valor que tinha a vida humana nessas regiões colonizadas, onde, soldados eram desembarcados pra tomarem conta dos funcionários aduaneiros e ambos morriam no meio da selva, descreve também a escravização desnecessária dos selvagens que para ele não podiam ser vistos como inimigos apesar da maioria de seus colegas exploradores /colonizadores serem a favor das punições e da escravização como forma de evitar novas rebeliões, além de outras destruições (da selva, da cultura ) sem sentido inclusive implantando um sistema em que os próprios nativos dominavam uns sobre os outros e as pessoas que morriam eram obrigadas a se embrenhar na selva e em alguns pontos foram obrigados a fugir das suas casas por medo ,o capitão Marlow retrata também como era estranho o uso de componentes espantosamente vindos do outro lado do mar por parte dos nativos selgavens.
Apesar disso o capitão Marlow argumenta que era necessário controlá-los principalmente os mensageiros que não eram confiáveis ,e os carregadores que provocavam confusões fugindo à noite
O ápice da descrição da contradição moderna e da ideologia européia da época é escrito quando o capitão Marlow descreve o contador da companhia que em meio à desmoralização, ao calor, ao barulho que o fazia detestar os selvagens, e as moscas com punhais e não ferrões mantinha suas roupas arrumadas muitíssimo bem, demonstrando firmeza moral, e no momento em que descreve o jovem aristocrata que apesar de ser um trabalhador por sua posição social tornara-se o espião do gerente(que o capitão Marlow descreve como um ineficiente que só tinha galgado o posto por que tinha uma boa saúde em meio a mundo de doenças) ,e como este tinha direito a velas.
Outro ponto importante é a demonstração a tese eugênica em moda na época,na parte em que pó medico examina o capitão Marlow,mede o seu crânio e tenta procurar uma razão biológica para ele estar disposto aos sacrifícios de uma vida além –mar,o médico afirma tenebrosamente que nunca consegue ver novamente seus pacientes que tem esse destino e por isso não consegue completar os estudos,para ele as alterações eram internas ligadas a algum problema genético como pregava a eugenia.

BIBLIOGRAFIA:

BERMAN, Marshall. Tudo o que é solido se desmancha no ar.
DE DECCA, Edgar. ”O colonialismo como glória do império” in ___ REIS FILHO, Daniel Arão.O século XX: o tempo das incertezas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2000. Volume I,
HOBSBAWM, Eric. A era dos impérios.

Resenha do Livro de Literatura: LEVI, Primo. Os afogados e os sobreviventes.
Rio de Janeiro. Editora Paz e Terra, 1990.

O autor foi um dos primeiros a escrever sobre o Holocausto, trabalho pelo qual foi amplamente reconhecido, principalmente por ter sido prisioneiro no campo de concentração/eliminação de Auschwitz-Birkenau, nascido em julho de 1919, morreu em abril de 1987 na Italia, sendo suas principais obras É isso um Homem?(trabalho memoralista),o fascismo se deu durante a sua formação universitaria ,o que o atrapalhou a concluir seus estudos e conseguir um emprego,mais tarde Levi fez parte da resistencia no Norte da Italia e por isso foi para o campo de concentração,ele foi libertado do campo de concentração/eliminação pelo exercito russo,tendo sobrevivido como ele mesmo descreve no seu livro Os afogados e os sobreviventes por uma conjuntura de fatores (todos os sobreviventes só o fizerem devido a uma conjunção diversa de fatores) como por exemplo seus conhecimentos de alemão e de química(pelos quais chegou a ser um dos privilegiados que descreve no mesmo livro que ele descreve,trabalhando para descobrir a borracha sintética nas fabricas que existiam dentro do próprio campo de concentração).
É importante descrever minimamente a biografia do autor, pois seus escritos são baseados nas suas experiências, o livro que pretendo resenhar foi um o mais importante e o ultimo livro escrito por Levi, que já estava aposentado e escrevia em tempo integral, mais focado no Holocausto e nos campos de concentração, o livro pretende responder a perguntas básicas como Por que vocês não fugiram? Além de tentar esclarecer aspectos do fenômeno dos campos de concentração (que serviram sucessivamente como centro de terror político, fabrica de morte, e reservatório de mão de obra escrava com a qual as indústrias obtinham extraordinários lucros) que ainda não foram esclarecidos, principalmente para as novas gerações mostrando para eles a veracidade do Holocausto, e a possibilidades que ele ocorra de novo focando nos aspectos que fizeram o sistema concentracionario nazista permanecer único em termos qualitativos e quantitivos em meio às guerras atuais (ou seja, os aspectos que permitiram que muitas vidas humanas fossem eliminadas num tempo curto, e com combinação de tecnologia, fanatismo e crueldade).
As primeiras notícias sobre os campos de extermínio se divulgaram mais amplamente no ano de 1942, mas a maioria das pessoas teve tendência de rejeitá-las em razão do seu absurdo, o que já tinha sido previsto pelos culpados e sentido pelos prisioneiros amedrontados. As provas matérias foram suprimidas durante a decadência do regime nazista, principalmente depois da batalha de Stalingrado, pois enquanto estavam vencendo os nazistas não se preocupavam, pois sabiam que os vencedores também detêm a verdade, mais depois das suas primeiras derrotas passaram a queimar arquivos dos campos de concentração e desviar os sobreviventes para longe do lugar de origem, além de fazer calar os seus próprios militantes e as testemunhas civis pelo medo, pela adesão voluntária.
A partir daí Levi faz um importante debate historiográfico, colocando que a história dos campos de concentração é constituída pelas memórias dos sobreviventes, que infelizmente devido às condições desumanas as quais estavam submetidos em sua maioria não conseguiam ver a totalidade do fenômeno que estavam presenciando, a melhor narração do que acontecia nos campos de concentração veio daqueles que eram neles prisioneiros políticos, e, portanto já tinham um conhecimento que permitia interpretar os fatos e não se submeterem, em sua grande maioria, a compromissos com os SS e tinham também condições de vida mais toleráveis que os judeus nos últimos anos do regime nazista.
Outra dificuldade levantada por Levi para a reconstituição histórica dos fenômenos dos campos de concentração é o desaparecimento de testemunhas, ou uma desmemoria por parte delas, verdadeira ou não essa desmemoria é ajudada pelo tempo, já que é sabido que com ele as recordações com o tempo se modificam, principalmente as recordações de pessoas submetidas a traumas; nesse caso especifico tanto opressores quanto oprimidos buscam refugio no tempo, por motivos diferentes.
Os opressores justificam suas ações, já que é difícil negá-las com maior base ao longo do tempo colocando a culpa na educação (que ensinavam obediência absoluta, hierarquia, nacionalismo, e que a justiça era só para os alemães, a verdade só estava nas palavras do chefe) na falta de autonomia que o regime instaurava, Levi argumenta que a pressão que um Estado totalitário moderno exerce sobre o individuo é tremenda, através da propaganda direta ou dissimulada pela educação, pela instrução, pela cultura popular, mas não é total e que a maioria dos SS foi educada antes que o Reich se tornasse totalitário, e sua adesão a ele tinha sido um resultado de uma escolha, ditada pelo oportunismo (e por executar suas tarefas foram promovidos) e entusiasmo. Já as vitimas tendem a culpabilizar o opressor, e se esquivam das recordações devido a dor.
Além disso, a história dos campos de concentração não pode ser vista como tende a historia popular, ensinada nas escolas a ver, ou seja, como um simples conflito, bipolar, entre nós e eles. Levi explica que nos campos de concentração o nós não existia, e o recém chegado era visto por todos como um inimigo, tanto pelos SS que o recebiam com violência quanto pelos os outros presos, que ao invés de lhe serem solidários, tinham em relação a ele além de atitudes violentas, grande desprezo e inveja, pois os recém chegados eram para os presos mais velhos como Levi explica, e pareciam trazer o cheiro da sua casa e um pouco de dignidade, e acabavam sendo um alvo para afogar a humilhação.
Então Levi explica como que alguns prisioneiros, entre eles ele mesmo, conseguiram sobreviver, obtendo privilégios como mais comida se submetendo as autoridades do campo, apesar de serem minorias nos campos de concentração é maioria entre os sobreviventes, e a principal reconstrução memorial do fenômeno se dá a partir deles, embora seus testemunhos não sejam completos por que eles não experimentaram a totalidade do fenômeno, e também porque eles procuram sempre se defender e justificar suas ações pelo condicionamento a qual seu comportamento era exposto, pelas tensões do campo de concentração que levavam as pessoas a terem atitudes contraditórias na busca pela sobrevivência, que reduzia suas escolhas,estava disposto a colaborar com os SS por vários motivos como, por exemplo: terror, engano ideológico, imitação do vencedor, ânsia de poder, covardia e tentativa de escapar.
Para Levi além dessas reduções morais, que levavam as pessoas a colaborar com os SS (cuja disciplina era cega) como modo de escapar à “Solução Final”, outro fator que dificultou a resistência foi à junção de pessoas de todas as idades, sexos, nacionalidades, condições sociais e ideologias por diferentes motivos nos campos de concentração.
Esses privilegiados surgiram por que a área de poder dos SS era estreita e necessitava de auxiliares externos, as quais eram relegadas tarefas marginais e criminosas (como cuidar dos fornos crematórios, o que aliava as consciências dos SS). Apesar disso os privilegiados lutavam para conservar seus privilégios, mas tinham no final o mesmo destino dos não privilegiados em geral eram rudes e insolentes, mas não violentos e nem percebidos como inimigos.
A exceção era os privilegiados que chegavam a galgar posições de comando das brigadas de trabalhos e das outras atividades, que com habilidade e/ou fortuna tinham acesso as informações secretas dos campos de concentração, tornando se mais tarde seus historiadores e ajudando seus companheiros, mas a maioria tinha atitudes violentas; primeiro por que eram corrompidos pela natureza excêntrica corrompia, e segundo por que eram punidos se não fossem duros com seus companheiros.
Inicialmente eram criminosos comuns, prisioneiros políticos já moralmente debilitados, sádicos, frustrados, infelizes dispostos a reverenciar a autoridade hierárquica, além daqueles entre os oprimidos que se identificavam com os opressores, que reproduzia nos campos de concentração a estrutura hierárquica do Estado totalitário, no qual o poder emana do alto e um controle de baixo para cima é quase impossível, no caso dos campos de concentração o poder de baixo era nulo e o poder dos privilegiados era absoluto, apesar de serem sempre eliminados para evitar as resistências, mais tarde entre os privilegiados se encontraram até judeus para demonstrar que eles se dobravam a qualquer humilhação, inclusive a destruição de si mesmos.

BIBLIOGRAFIA:

BERMAN, Marshall. Tudo o que é solido se desmancha no ar.
KRAUSE-VILMAR, Díetfrid. A negação dos assassinatos em massa do nacional-socialismo: desafios para a ciência e para a educação política.
CYTRYNOWICZ, Roney. As formas de lembrar e a historia do Holocausto.
SCHILLING, Voltaire. Os Assassinos da Memória. O Revisionismo na História.
KOUTZII, Flávio. Neonazismo e revisionismo: Um desafio político.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom,excelente!